Apesar de ter nascido em agosto de 1965 em São Bernardo do Campo, sempre morou em Santo André, onde seus pais ainda residem; possui um irmão e uma irmã mais nova. Estudou em escola pública até o Ensino Médio junto de seus irmãos. Por meio do seu tio Geraldo, contador do IMES, aos 14 anos de idade começou a trabalhar no IMES no seu primeiro e único emprego; iniciou no almoxarifado e como office boy no departamento financeiro. Quando o IMES começou a se informatizar, Antonio foi convidado a trabalhar em outro setor como operador de computador, tanto na parte administrativa quanto nos laboratórios de informática. Posteriormente, passou por outros setores na universidade. |
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Resposta:
Vamos lá. Antonio Carlos Maciel, eu nasci em São Bernardo em agosto de 1965.
Pergunta:
O Antonio tem acento circunflexo?
Resposta:
Não, não. Antonio normal.
Pergunta:
Bom Carlinhos, vamos começar então lá do comecinho mesmo, né? Queria que você trouxesse as lembranças que você tem da sua primeira infância, do núcleo familiar, como que era aí... o que você se recorda, da casa onde você vivia em São Bernardo... Fala um pouquinho desse início aí da sua trajetória.
Resposta:
Bom, eu nasci em São Bernardo, mas a minha residência fixa, que inclusive até hoje meus pais moram lá né, é em Santo André. Então...
Pergunta:
E como era essa.. como você se recorda dessa época em Santo André?
Resposta:
Bom... uma infância como ______ uma infância simples né, meu pai trabalhando em uma empresa metalúrgica... e sempre estudei em escola pública até pela situação... até... o segundo grau, sempre foi em escola pública.
Pergunta:
O que você lembra... era uma casa em que você morava?
Resposta:
Morava numa casa.
Pergunta:
Tinha irmãos? As brincadeiras...?
Resposta:
Sim.
Pergunta:
Como que você passava o seu tempo livre aí? Antes de entrar na escola, o que que você lembra?
Resposta:
Bom, tempo de menino você imagina né? Tempo de menino é futebol. Então, eu estudava.. sempre estudei em um período em que estudava de manhã, e a tarde era futebol até depois eu inverter o processo de estudar a noite e aí futebol de manhã e a tarde. O garoto é isso. Era uma infância tranquila. Tenho dois irmãos: uma irmã e um irmão. Sempre tivemos uma relação muito boa como é até hoje.
Pergunta:
A diferença de idade é muito grande?
Resposta:
Não, o meu irmão é uma diferença mínima de um ano e pouco. A minha irmã já é uma diferença de quatro, cinco anos, que é a caçula.
Pergunta:
E como funcionava o núcleo de amizade aí? Era o mesmo grupo de amizades? Cada um tinha o seu? Se recorda de alguma..?
Resposta:
Pois é, pois é. Eu e meu irmão sempre tivemos praticamente, até pela idade ser pequena, próxima uma da outra, a gente sempre teve uma relação de amigos praticamente idêntica, né? Salvo um ou outro de escola, mas a relação de amizade, o laço de amizade foi sempre a mesma, praticamente a mesma. Depois, obviamente, isso foi mudando né?
Pergunta:
E a relação familiar? Assim dos seus pais, da sua mãe, a questão de quem era mais rígido? Como isso, como era o dia a dia dessa família?
Resposta:
Pois é... Meu pai era aquele sargentão, né? Ele sempre foi muito rígido com a gente, principalmente comigo que era o mais velho, queria que eu fosse sempre o retrato, o espelho a ser seguido. E naquela fase de aprontou, apanhou. Sabe?
Pergunta:
Você aprontava muito?
Resposta:
Não. Eu sempre fui tranquilo, coisas de moleque, você sabe, né? Chutar bola no vizinho, quebrou o vidro do vizinho. Coisas simples assim. Meu pai foi, hoje ele não é mais, era muito autoritário. Ele gostava das coisas muito certinhas. Então a gente tinha um... uma vigilância muito forte por parte do meu pai, eu e meu irmão principalmente, a gente era muito controlado. Escola, horário pra entrar em casa, isso por um certo tempo era muito fiscalizado.
Pergunta:
Você lembra como foi esse início na escola? Quer dizer, o impacto pra você? O que você lembra das mudanças que passaram a ocorrer quando você entrou na escola?
Resposta:
Bom, como eu te disse eu sempre tive uma infância muito simples... A escola em que eu fiz o meu ensino fundamental, na época, era próxima de casa e todo mundo se conhecia ali... Foi um momento bom, gostoso da minha vida porque a gente fez um círculo de amizade ali, naquela fase de idade muito bom. Então, as recordações são as melhores possíveis que eu tenho daquela época.
Pergunta:
Onde você estudou o primeiro ano? [5']
Resposta:
Eu estudei na escola Padre José (Penebretti), uma escola municipal ali em Santo André. Estudei ali... fora a reprovação, seis anos.
Pergunta:
Você falou que o seu pai era metalúrgico? É isso?
Resposta:
Meu pai sempre trabalhou em metalúrgica.
Pergunta:
Você se recorda de algum impacto ali? Desse movimento do ABC, né? O ABC é muito conhecido pelas empresas metalúrgicas, né? Você ainda criança, o que você se recorda do trabalho do seu pai? Você tinha alguma noção do que se passava ali no trabalho ou isso se passava despercebido?
Resposta:
Não, a gente só sabia que ele realmente trabalhava com mecânica e... sempre trabalhou com mecânica, mas a gente não tem uma base da época do que rolava naquela época.
Pergunta:
Não tinha nenhum impacto.
Resposta:
Não tinha impacto. Pra gente era o meu pai trabalhando e a gente ali naquela vida simples, estudando e nada mais.
Pergunta:
Bom, vamos falar um pouquinho então de como foi a sua trajetória, quer dizer, ainda entrando no colégio, começando a estudar. Você falou que passou seis anos nesse colégio aí em Santo André e a sua evolução até chegar ao mercado de trabalho. Como que isso.. o que que você recorda aí? Como que se dá aí essa sua caminhada.
Resposta:
Bom, como eu te disse eu tive uma época em que estudei de manhã e depois comecei a estudar à noite. Isso foi no ensino médio hoje, naquela época era segundo grau, né? E obviamente eu não fazia nada até os 14 anos de idade, eu simplesmente estudava. Até um certo dia... eu tinha uma pessoa... meu tio que já trabalhava aqui na faculdade, Instituto Municipal na época, me convidou para vir trabalhar aqui na faculdade. O processo não era como é hoje, hoje já tem concurso, aquela coisa toda. Naquela época não tinha nada disso, você chegava apresentar, fazer uma pequena entrevista e entrar. E comecei em setembro de 1980, começou a minha jornada aqui na faculdade.
Pergunta:
Então a USCS foi o seu primeiro e único emprego?
Resposta:
Primeiro e único emprego. E acho que a tendência, é que fique assim. [risos]
Pergunta:
Fala um pouquinho disso: quem era o seu tio? Qual a função que ele exercia aqui?
Resposta:
Meu tio é o irmão da minha mãe, Geraldo, na época ele era contador da faculdade e foi ele que me ingressou, foi através dele que eu entrei aqui na faculdade. A entrevista foi com o seu Nelson Bonesso, que era na época o chefe do departamento pessoal, inclusive ele era o chefe e o único funcionário do departamento pessoal. Comecei a trabalhar aqui na faculdade numa área mista: sendo uma parte da manhã trabalhava no departamento de almoxarifado e a parte da tarde eu ia fazer o serviço de boy. Então...
Pergunta:
Eu queria que você detalhasse um pouquinho melhor como foi esse momento, quer dizer, como um menino de 14 anos que está estudando à noite, você já estava procurando emprego? Isso... como isso surgiu? Como foi feito esse convite?
Resposta:
Sim, sim, eu estava procurando um emprego sim, mas a dificuldade como é hoje, estava difícil. E aí surgindo a possibilidade de vagas na faculdade na época, o Geraldo me apresentou. Praticamente ele chegou e falou: `Se troca que você vai pro emprego'. Basicamente foi isso.
Pergunta:
Qual era a imagem que você tinha do IMES naquela época? Olhando de fora, né? Você vai lá fazer uma entrevista no IMES lá. O que passou pela sua cabeça?
Resposta:
Pois é, um medo cruel, porque você imagina um garoto de 14 anos... Hoje a informação chega muito mais rápida, eu não tinha informação nenhuma, nem de trabalho, nada. Nem sabia o que que era o IMES na época, até chegar aqui e depois você vai conhecendo, né? Foi só dor, né? [10']
Pergunta:
Você lembra como foi essa entrevista com o Nelson?
Resposta:
Ah, essa entrevista foi praticamente preencher uma ficha e ponto. Não teve aquela entrevista tradicional como é hoje no mercado de trabalho. Não tinha nem currículo, entendeu? Não tinha nada, praticamente estava só estudando. Quer dizer, o Geraldo me apresentou, eu fiz uma ficha e acho que foi numa quarta ou quinta-feira da semana e na segunda-feira eu começava.
Pergunta:
Fala um pouco pra gente como era o IMES que você encontrou aqui em setembro de 1980?
Resposta:
Fechado, muito pequeno... Eu fui trabalhar num departamento que não tinha acesso, até pela minha história, eu era muito novinho. Eu não conhecia ninguém assim; eu me limitava a ir para o trabalho, ficando naquele ambiente do almoxarifado que tinha um chefe na época, o departamento financeiro... mas era tudo, hoje já é separado, pra fazer serviço de boy e depois voltava pra casa. Eu só centralizava ali. Por muitos anos eu ficava só nisso, eu não tinha outro mundo. Internamente aqui, eu não conhecia outras pessoas. Eu ficava muito naquele mundinho de duas, três pessoas e nada mais. Depois com o tempo a gente foi crescendo, aprendendo, fui conhecendo mais pessoas, fui me interessando mais também. Eu era muito tímido, então eu não tinha... eu tinha muita dificuldade de me comunicar com outras pessoas até do próprio departamento, imagina com pessoas que eu não tinha relação nenhuma. Então ficava naquele mundo fechado, entendeu? Por muitos anos eu fiquei.
Pergunta:
Você consegue identificar alguns momentos que exemplifiquem você superando essas barreiras dentro da sua trajetória, né? Daquele menino que entrou ainda muito tímido e depois passou a conhecer a instituição. Você lembra de algum momento em que você fala: 'Olha, isso foi importante e depois já fui conseguindo fazer isso...'
Resposta:
Pois é, eu era muito cobrado disso, a questão de me expressar, me comunicar. Entendeu? Porque faz parte do dia a dia, principalmente num dia corporativo profissional, você tem que conversar com as pessoas, você tem necessidade de conversar com as pessoas. Eu era muito cobrado por causa da minha timidez e isso eu fui me policiando e tentando burlar essa minha timidez pra poder chegar a atender as minhas necessidades profissionais aqui dentro porque se você não se expressa, não se comunica, você não existe pra empresa. Então eu fui tentando, controlando essa minha timidez e com o tempo melhorando a minha relação interpessoal aqui dentro.
Pergunta:
Você falou que você passou por um período, alguns anos nessa dupla função no almoxarifado e no financeiro?
Resposta:
Olha, eu fiquei uns... eu não sei, se fomos falar de data... mas eu passei alguns anos nessa situação de almoxarifado pela manhã e quando tinha trabalho de boy, na época não era como hoje tudo informatizado, na época qualquer duplicata você tinha que ir lá no ponto do estabelecimento comercial e pagar ou correio. Então quando tinha esse tipo de trabalho, eu tinha que ir atrás de subir em outro departamento e fazer isso. Eu fiquei alguns anos nessa mista.
Pergunta:
Tem alguma história dessa época? Foi pagar uma conta e tinha alguma coisa errada? Ainda mais alguém que está começando no processo...
Resposta:
Eu lembro que eu usava uma mala vermelha, que não era muito comum e ali ia tudo: era duplicata, era carta de correio, então tinha história aquela mala fechadona. Imagina você miúdo, magrinho com aquela mala... Imagina: 'O que aquele garoto está fazendo com aquela mala pesada carregando pra lá e pra cá?' que era o dia a dia, indo de ônibus. Provavelmente eu não vou lembrar, mas eu devo ter perdido alguma coisa... Tem algumas histórias que com o passar do tempo a gente não lembra, mas histórias devem ter.
Pergunta:
Se for lembrar de alguma coisa, interrompa e conte a história, tá?
Resposta:
Vamos ver. De bate-pronto eu não lembro.
Pergunta:
Seguindo ainda a sua trajetória na USCS, qual foi o seu próximo passo dentro da instituição? Você estava lá como almoxarifado e como boy, como foi a primeira mudança nessa atuação? [15']
Resposta:
Como a universidade era muito pequena, havia uma carência de mão de obra e aí o IMES com a questão da informatização, foi crescendo, foi surgindo a necessidade do computador, foi surgindo a necessidade de ter aula de informática e aí surgiu a oportunidade de trabalhar como operador de computador.
Pergunta:
Fala um pouco desse momento. Nós temos poucos depoimentos que falam como foi esse processo da chegada do computador na instituição. Você que acompanhou de perto.
Resposta:
Foi um momento difícil porque a faculdade não tinha estrutura, então a gente tinha aquele computadorzinho de 8 bits, o processamento de dados era muito remota e a gente também tinha dificuldade de aprender e conhecer essa tecnologia. Para mim foi complicado porque eu não conhecia nada e de repente falaram assim: 'Carlinhos, surgiu uma oportunidade de trabalhar ali, vamos? Operador de computador, aí você vai lá na raça aprendendo'. Tinha disciplinas que os professores, os alunos usavam o computador mas com disquete na época para usar o disquete para poder fazer o trabalho do professor. Tinha trabalho de administração financeira, que a Carminha usava para econometria, se você perguntar para ela, ela vai se lembrar! Tinha trabalhos que você usava o disquete que tinha um software nele para você desenvolver um trabalho em cima dele e aí eu tive que aprender a formatar, são coisas simples hoje mas que na época era um...
Pergunta:
Era como se fosse um laboratório de informática?
Resposta:
Era uma laboratório. Na verdade, era um laboratório de informática que os alunos usavam o laboratório ou para a aula com determinado professor, na época era o Botelho, ou para trabalhos específicos que usava ferramenta que estava num programa gravado em um CD, disquete na época, para poder desenvolver o trabalho que o professor estava pedindo.
Pergunta:
E além desse uso acadêmico também, era usado administrativamente pela USCS? Como era no dia a dia no departamento?
Resposta:
Era mais realmente para os alunos. Obviamente, os departamentos foram criando as suas ferramentas para o trabalho. Mas eu ficava muito ali específico naquele laboratório, uma sala com quarenta, cinquenta computadores de pequeno porte e atendendo os alunos ali.
Pergunta:
Como se fosse hoje o monitor na sala de computação que fica ali responsável pelas máquinas?
Resposta:
Justamente. É como é hoje, os monitores, só que funcionários orientando, ajudando o aluno em alguma coisa.
Pergunta:
A implementação disso, quer dizer, a chefia dessa área era o professor Botelho?
Resposta:
Era o professor Botelho e a dona Lúcia. Eram os dois que administravam, a Lúcia ficava com a parte administrativa, pois tínhamos um setor como é hoje de informática que era a dona Lúcia e a ... Deixa eu ver se eu lembro da nossa profissional. Deu branco. Ela trabalhava até a pouco tempo com a gente. Acho que você [Luciano] vai lembrar dela. Valéria?! Como chama o nome dela...? Bom, eram as duas que administravam a parte administrativa, eu também fazia algum servicinho administrativo e o Botelho cuidava mais da parte do laboratório: das aulas e do laboratório em si.
Pergunta:
Você respondia ao professor Botelho?
Resposta:
Ao professor Botelho.
Pergunta:
Naquele momento ele era a sua chefia?
Resposta:
Sim, era de novo como o misto: a Lúcia era a minha chefia na parte administrativa ali no setor e o Botelho na parte do laboratório.
Pergunta:
Dessa época você lembra de alguma história aí que ficou na sua lembrança?
Resposta:
Pois é, de bate-ponto eu lembrar dessas histórias...
Pergunta:
Vai lembrar no carro, né? Quando a gente estiver voltando, né...
Resposta:
Pois é, é sempre assim. Bom, se eu lembrar eu falo.
Pergunta:
Você estava lá nos laboratórios trabalhando, isso nós estamos falando em meados dos anos 80...
Resposta:
Anos 90 talvez... É, final dos anos 80 começo dos anos 90.
Pergunta:
Queria que você continuasse nessa trajetória falando um pouquinho dessa sua evolução, quer dizer, aquele Carlinhos que chegou aqui ainda moleque, aprendendo, tímido e foi se desenvolvendo aos poucos... Queria ir traçando um paralelo com a própria USCS, que ainda era uma jovem instituição, ainda muito no início, ainda amadurecendo. Então fala um pouco desse processo de amadurecimento tanto seu como da própria instituição que você foi presenciando. [20']
Resposta:
A faculdade quando eu entrei, ela tinha quatro cursos. Quatro cursos e nada mais que isso, não tinha nem pós-graduação na faculdade. Então a faculdade foi crescendo e obviamente o IMES foi crescendo, tanto que foram criando cursos e os departamentos também foram sendo criados. A gente procurou suprir a carência de profissionais, fomos aprendendo alguma coisa além do que estava centralizado, no caso, eu estava muito focado na parte de computadores e eu precisava focar também na área financeira, uma área que eu sempre gostei de mexer. Mas o IMES não tinha, eram muito remotos, os departamentos eram muito pequenos, eram um ou dois funcionários ali, um ou dois funcionários aqui, não havia a necessidade de ter mais funcionários. Então a gente foi evoluindo de acordo como a universidade foi evoluindo, não dava pra sairmos desse mundo.
Pergunta:
Você falou da questão do computador, né? Não tinha uma parceria com a GM ou de uso de computadores compartilhados? Não tinha uma coisa assim?
Resposta:
O que aconteceu com o IMES, até pelo crescimento, a gente precisou informatizar o nosso sistema. Antes era tudo no manual, controle manual, boletim de caixa que era cliente da faculdade, tudo no manual; e precisávamos nos informatizar. Aí a empresa EDS, veio para justamente dar esse suporte, a dona Lúcia já não estava mais atendendo [abre aspas com as mãos] e aí entrou a EDS com um sistema específico para nós. Essa foi a ligação com a GM; a EDS veio para nos ajudar justamente com essa questão da informatização do sistema, tirar muita coisa do papel e jogar pra informatização.
Pergunta:
Você lembra de alguma dessas atividades que eram feitas no papel e como isso mudou com a informatização?
Resposta:
Tínhamos um controle de balanço que tínhamos que fazer e não tínhamos sistema, e tínhamos que tirar cópias dele então usávamos uma máquina para fazermos um mapeamento desse balanço que depois com a informatização isso mudou tudo. Só dá um enter e atualizava isso. Antes tínhamos que fazer tudo isso no braço.
Pergunta:
Como era essa máquina?
Resposta:
Nossa! Usava tipo uma gelatina, molhava ela, era como se fosse uma cópia, sabe? Pena que essa máquina já não tem mais na faculdade.
Pergunta:
Detalha mais um pouquinho, me interessei por essa máquina.
Resposta:
Essa máquina a gente usava na contabilidade! É antiga, hein! A gente usava ela para.. como se fosse uma cópia de um balanço que a gente fazia.
Pergunta:
Fazia o balanço, colocava na geleia e saía uma cópia dela?
Resposta:
Justamente! Era uma coisa muito antiga. Eu particularmente usei pouco ela, quem usava mais era o Sidnei e o Geraldo na época. Mas tínhamos outra máquina também que era para fazer empenho, hoje você dá um enter e deixa a máquina e ela faz. Precisava da máquina pra fazer empenho, como se fosse uma máquina de escrever só que você colocava dentro dessa máquina quatro vias então saia as quatro cópias e a gente fazia tudo lá [mexe os dedos como se estivesse escrevendo em um teclado]. E ela tinha uns pontilhados do lado para justamente arquivarmos elas; essa máquina a gente também não tem.
Pergunta:
Como se fosse uma máquina de escrever..?
Resposta:
Como se fosse uma máquina de escrever, mas só que ela tinha uma base em cima em que se colocava o papel ali, com os furinhos do lado, ela travava e você digitava o que você queria. Só que saia em quatro vias. Também, usamos bastante essa máquina, também na parte contábil.
Pergunta:
Em questão de comunicação, chegou a usar telégrafo?
Resposta:
Pois é, não.
Pergunta:
Ou fax?
Resposta:
Não, eu não lembro dessa parte.
Pergunta:
Você falou que você estava lá então primeiro no almoxarifado, né? Depois foi para o laboratório onde você já fazia um atendimento aos alunos e desde lá você está sempre em contato com os alunos, né.?Você pode passar um pouquinho a diferença, se é que existe, entre aquele aluno da USCS de meados dos anos 80 pro aluno atual? Como isso foi se modificando ao decorrer do anos? [25']
Resposta:
Primeiro, o número de alunos era bem menor do que é hoje...acho que na época em que comecei tinha dois... três mil alunos. A nossa relação era muito.... como posso dizer para você? Muito pequena, os alunos.. era tudo no papel e: 'Preenche o papel aí e pronto!'. A gente não tinha uma relação muito profunda com os alunos. Hoje a gente tem várias ferramentas para ter contato com os alunos, mas... como posso dizer? Não tínhamos um departamento específico que a gente pudesse estreitar a relação com o aluno. Então digamos, de 1992 a 1996, apesar de estarmos com uma relação com o aluno, era mais específico: o período de matrícula, o período de acordo, a gente só centralizava nisso.
Pergunta:
E o setor de atendimento ao aluno?
Resposta:
Não tinha um setor de atendimento ao aluno. Era um setor pequeno que era o financeiro, era o atendimento ao aluno, era tudo ali. Dois ou três funcionários e ponto.
Pergunta:
Quer dizer que existia um setor mas não era focado no atendimento ao aluno?
Resposta:
Não era focado no atendimento ao aluno. Dava para existir, mas a relação era diferente, até pela estrutura que a gente tinha, você não pode mexer a parte financeira e acadêmica num mesmo ambiente. Constrange... e era muito fria essa relação, era muito documental.
Pergunta:
Fisicamente, onde estavam os setores?
Resposta:
Então, essa sala... esse setor foi assim, né? [aponta em diversas direções]. Começou lá embaixo em uma sala de aula, hoje quando você vem do atendimento, ali tinha os corredores de baixo, ali era o banco, era a secretaria e ali era a tesouraria, vamos dizer assim, e o atendimento. Mas o nome não era atendimento, era tesouraria, mas ali era tudo. Pelas salinhas... eu não sei os números dela, aquelas salinhas de baixo, quando você vem do Atendimento pra cá no prédio B tem as salas de baixo, de quem está vindo, o lado esquerdo; lá era tudo a parte administrativa nossa, de aluno era ali. Depois ela foi indo pro meio, onde é o DCE hoje; depois ela foi onde é hoje... não sei se é o Paulinho que fica naquela salinha ali do lado mesmo do DCE, teve uma fase que ela foi para as salas de aula, foi migrando de lá pra cá, pra lá pra cá.
Pergunta:
A diretoria e alguns setores administrativos eram onde hoje é o laboratório de informática, ali embaixo.
Resposta:
Justamente. Ali na época, que era o antigo (CEMPIS), que era o setor de informática da prefeitura, ali era a parte toda administrativa, ficava a reitoria, ali era, na época não tinha reitoria, era diretoria, informática, secretaria, tinha uma salinha do financeiro. Tudo ali, naquela parte de baixo.
Pergunta:
A sua sala na época de... monitor, de responsável pelo laboratório de informática onde que era?
Resposta:
Justamente, hoje era um pouquinho mais para frente, não tem a salinha onde é o AACC?
Pergunta:
Do lado do DCE.
Resposta:
Então, ali do lado era uma salinha de vidro, toda a sala de informática. Cinquenta computadores eram ali. Hoje, a estrutura é outra, obviamente. Mas a salinha era aquela lá, 50 computadores e seja o que Deus quiser. [risos]
Pergunta:
E o aluno, ele mudou? Você acha que o perfil do aluno é o mesmo?
Resposta:
Não, o perfil do aluno não é o mesmo. Hoje o aluno está mais informado e com isso ele dá margem para que ele possa questionar. Acho que em contra partida, nós aqui temos dado um retorno ao aluno mais rápido, na informatização, através dos e-mails, dúvidas que tiramos pelo portal. Então isso melhora a relação entre escola, funcionário e aluno. Óbvio, que se o funcionário não der a informação objetiva ou de repente a forma como ele der a informação. Vou te dar um exemplo muito simples: você dá a informação para o aluno sem olhar na cara dele, mesmo que a informação seja clara e objetiva, isso é ruim porque você tem que olhar para a pessoa, ela quer ser bem tratada, ver que você está olhando para ela, nos olhos dela. Essas são técnicas nossas, simples que ajudam na relação com o aluno. Lá atrás não tinha isso, era muito fria a relação. [30']
Pergunta:
Continuando essa sua trajetória pela USCS, então qual foi o passo seguinte ali? Você estava no laboratório de informática, como que isso se encaminhou?
Resposta:
Isso foi de novo, surgiu a oportunidade de ir para o atendimento ao aluno. Precisávamos criar um setor específico, maior, não como é hoje que está separado, um espaço pra justamente atender as necessidades do aluno porque tínhamos muitos problemas, a nossa amiga aí [aponta para a câmera] não sentiu isso porque ela não deve estar a tanto tempo aqui. Tínhamos muitas dificuldades no sistema... tínhamos um sistema complicado que dava muitos erros - o aluno estava numa sala e entrava na outra, então precisávamos melhorar isso e criamos um setor.
Pergunta:
Estamos falando isso ainda lá nos anos 80?
Resposta:
Anos 2000 já.
Pergunta:
Mas o setor de atendimento ao aluno, esse departamento específico para atendimento ao aluno é anterior, não é isso?
Resposta:
Sim.
Pergunta:
Você estava lá na sala de informática..
Resposta:
Na sala de informática há alguns anos..
Pergunta:
Ficou lá por alguns anos, vamos supor aí que estamos falando do início dos anos 90 mais ou menos.
Resposta:
É, acho que anos 90.
Pergunta:
E aí chega o momento em que a universidade decide criar uma área específica para atendimento ao aluno.
Resposta:
Isso já deve ser em 1995-96, já estava próximo aos anos 2000.
Pergunta:
Até meados dos anos 90 não existia um departamento específico de atendimento ao aluno.
Resposta:
Não, não tinha. Tinha um setor que atendia tudo lá: financeiro, acadêmico, tudo era lá. Tinha uma secretaria, mas era a gente que resolvia algumas coisas de ordem acadêmica, mas não tinha um setor específico para isso como é hoje. Hoje nem sabem onde é a secretaria. Então precisávamos criar um setor que justamente atendia o aluno.
Pergunta:
Basicamente, pelo que estou entendendo, essa divisão que temos hoje de: um setor financeiro, uma secretaria técnica e um setor de atendimento ao aluno, essas três coisas estavam no mesmo lugar.
Resposta:
Estavam no mesmo lugar. Existia uma secretaria que justamente atendia a necessidade do aluno como pedir um atestado, isso era da secretaria. Só que isso comprometia o trabalho da secretaria. Se ela fica envolvida em atender aluno... o histórico que pediam hoje demorava 30 dias porque estava (a secretaria) ocupada atendendo aluno, então precisávamos melhorar isso.
Pergunta:
E você não estava envolvido ainda nessa área?
Resposta:
Não, eu estava na informática. Então a visão da diretoria na época era justamente deixar a secretaria de lado e criar um setor que atendia as necessidades do aluno simplesmente sem se preocupar em fazer documento, analisar currículo, aquela coisa toda. Aí foi criado um setor de atendimento ao aluno "misto" com o financeiro. Uma coisa só.
Pergunta:
E aonde ele ficou alocado?
Resposta:
Esse setor, ele ficou primeiramente, e ele ficou um bom tempo por ali, dentro do DCE. Na verdade a gente ficou ali, um pouquinho ali. Primeiramente, ficou próximo do DCE, numa salinha, tinha o Nelson como responsável. E a gente ficava com o objetivo de atender as necessidades do aluno ali. Depois ela foi para a sala do lado, onde é a sala do lado do AACC. Mudávamos para um espaço pequeno, mas...
Pergunta:
Mas sempre no pátio do prédio B?
Resposta:
Sempre no prédio, no espaço do prédio B. Sempre naquela área. Mas só tinha um departamento para as duas situações: o acadêmico e o financeiro.
Pergunta:
Como foi o convite para você, se é que foi um convite para trabalhar________?
Resposta:
Acho que foi mais, nem foi um convite, foi mais a necessidade, precisava muito disso, tínhamos um número de funcionários complicado. Então surgiu a oportunidade para algum outro, via a necessidade da chefia, o diretor na época e ia pegando... 'Vamos lá? - Vamos!'. Era assim o convite.
Pergunta:
Você lembra...?
Resposta:
Na minha época, acho que quando foi criado esse setor, foi o professor Marco Antonio, que era o diretor na época... Inclusive essa questão da sala de informática, foi o professor Marco Antonio que criou.
Pergunta:
E aí você foi lá atuar nessa área de atendimento? Destravar al....
Resposta:
Fomos lá. Algum atendente.
Pergunta:
Você lembra como era a equipe? Como era o dia a dia de vocês?
Resposta:
Olha, na época era o Nelson - que era o chefe, tinha eu , muitos funcionários que não estão mais com a gente, já saíram. Mas tínhamos muita dificuldade. [35']
Pergunta:
Fale um pouquinho sobre essa dificuldade.
Resposta:
Nossa dificuldade porque tínhamos um sistema que não atendia a nossa necessidade. O IMES foi crescendo e o sistema não foi atendendo. Então, tínhamos o problema do aluno ir três, quatro, cinco vezes para resolver uma questão que podia ser resolvida na primeira vez que ele compareceu. E retomava porque as coisas não evoluíam. Então, a gente criou um setor para melhorar, mas devido a nossa fragilidade de sistema, a gente trocou seis por meia dúzia, porque tínhamos muito retorno do aluno. Era época de filas e filas, filas e filas. Porque o aluno era reincidente, ele achava que tinha resolvido uma situação e tinha que voltar, depois não resolvia e voltava de novo. Então, foi criado um setor pra atender as necessidades do alunos, mas a priori não conseguíamos resolver.
Pergunta:
E quando isso foi contornado?
Resposta:
Obviamente que o sistema foi evoluindo, mas a gente continua tendo problema. Cada vez que sai e entra gente, alguma vez que mudava um pouquinho alguma situação acadêmica do aluno, a gente tinha os problemas. Então anos 2000, 2003, 2004, fomos criando setores, fomos melhorando setores, aumentando o número de funcionários, mas tínhamos problemas de ordem de sistema.
Pergunta:
Bom, nessa trajetória no começo dos anos 1980 e a gente chegando já aos anos 2000, você foi vendo realmente várias transformações.
Resposta:
Claro.
Pergunta:
Quer dizer, aquela instituição que tinha apenas o prédio B, que você acabou de comentar essa estrutura física ela foi ganhando uma dimensão maior. Você pode citar alguns momentos dessa trajetória que você aqui dentro foi percebendo: 'Olha, isso aqui foi uma mudança grande que a gente teve... essa aqui foi uma mudança grande..'.
Resposta:
Olha Luciano, o que a gente percebe é que lá nos anos 1980 nós tínhamos quatro cursos e chegamos aos anos 2000 com 10, 12, 14 cursos... Então a dinâmica já começa a complicar, já vai de novo pecando aquela questão do sistema. Você precisa evoluir o sistema. Então já tínhamos uma carga de trabalho muito maior, uma coisa é administrar dois cursos, quatro cursos, uma coisa é você administrar 14 cursos. A gente começou a ter dificuldades aí, o IMES foi crescendo, o número de funcionários aumentando e o grau de problemas foi aumentando.
Pergunta:
A gente foi falando da evolução da USCS, mas dentro daquele paralelo a gente deixou o Carlinhos lá com 14 anos, ainda inseguro, morando na casa dos pais em Santo André. Como foi essa evolução do Carlinhos até a gente chegar nos anos 2000?
Resposta:
Demorou, viu Luciano. Como você disse, eu sempre fui tímido, eu sempre tive a timidez como uma barreira para mim, seja em casa, no ambiente social, eu sempre tive essa barreira. Então isso foi melhorando, eu não vou lembrar as fases, mas foi gradativamente. Aos poucos, devagarinho, as coisas foram evoluindo. Mas foram momentos difíceis para mim, porque devido a minha timidez, meu bloqueio em me comunicar, eu tive dificuldade em trabalhar porque a comunicação é importante em tudo, você tem que se expressar. Então devido a isso, a imagem que eu tinha é que eu não era um bom profissional. Eu não vendia o meu peixe, eu não me comunicava, eu tinha dificuldade em me expressar. Às vezes eu tinha uma própria dificuldade no trabalho, mas eu tinha dificuldade em questionar e expressar minha dificuldade. Se você não apresenta nenhum tipo de questionamento, quem está na chefia entende que está tudo certo. Um questionamento que você não concordava, que você acha que podia melhorar, eu não me expressava, ficava chato. Então, isso eu levava para casa, comentava com os meus pais e ficava nisso. Eu tinha muita dificuldade realmente de apresentar, mostrar a minha cara.
Pergunta:
Conforme a gente vai conversando com as pessoas, principalmente as pessoas contemporâneas desse mesmo período, uma coisa que sempre aparece é a questão do grupo. De como esse grupo numa instituição ainda pequena passou a se conhecer, passou a .... então você começa a ver como a pessoa, o colega de trabalho lá teve um filho e já conhece o filho desde pequeno e os filhos se conhecem e se encontram e acabam tendo uma relação que às vezes ela extrapola o dia a dia do trabalho. No seu caso, em que pese essa timidez que você relatou, você tem também isso na memória? Quer dizer, essa convivência com os demais funcionários? [40']
Resposta:
Sim, eu tinha muita dificuldade. Como eu te disse, eu ficava naquele mundinho de meu coleguinha de lado, porque estávamos todos os dias ali, mesmo com a sua timidez você acaba tendo uma relação, você se sente mais a vontade. Mas eu ficava centralizado nisso, coleguinha de trabalho aqui e do outro setor, que eu era misto; eu centralizava em conversar o básico, mas conversava com o meu colega do outro setor. Então isso por alguns anos foi melhorando, mas foi a minha barreira. Foi difícil.
Pergunta:
Você falou também da mudança do perfil do aluno, você falou que hoje o aluno tem mais informação. Justamente quem trabalha num setor como o atendimento, você está diretamente envolvido com o aluno, você acaba passando por N situações. Você falou que tem treinamento, técnicas para lidar com o público, mas acredito que você passou por várias reclamações que vão desde reclamações às vezes mais duras - aquele aluno que chega bravo, enfim, até coisas mais positivas.
Resposta:
É, eu tenho muitas histórias.
Pergunta:
Eu gostaria que você falasse um pouquinho sobre isso, contasse um pouco sobre estas histórias pra gente ter uma ideia do dia a dia de quem trabalha atendendo o público da universidade.
Resposta:
Como eu te disse, a gente vai amadurecendo e vamos procurando... como já estou há muito tempo com relação com aluno, muito tempo, vamos aprendendo com os nossos erros. E eu tinha fases em que eu batia de frente com o aluno, independente de eu estar certo ou não, não é o caminho correto bater de frente com o aluno ou qualquer pessoa que seja. No meu caso, que é o meu cliente é o aluno, você de repente querer discutir com o aluno um determinado assunto, com certeza é uma coisa que eu aprendi é: não discutir. Você pode ouvir primeiramente o que o aluno está questionando, você pode dar informação contrária a dele, mas ficar nisso. Jamais ofender, jamais levantar a voz. E eu tive fases, obviamente, até por estar há muito tempo aqui dentro, de discussão; houve fases de repente chamar a segurança, porque o negócio extrapolou o .... porque você não teve de repente a bagagem, da época, suficiente para: 'Pára por aqui, você já se excedeu.'. Então essa experiência que a gente vai adquirindo e, obviamente que depende muito de você porque.. tanto velho, tanto tempo em uma situação, mas não quer enxergar que você também está errado. Então, com o tempo a gente vai aprendendo, fomos aprendendo que há coisas que não se falam, aquela coisa que eu falei: olhar para o aluno, olhar nos olhos da pessoas. Fomos evoluindo. É lógico que precisamos evoluir cada vez mais, mas fomos evoluindo e o aluno também foi evoluindo, porque hoje a informação chega para ele [estala os dedos] assim. Qualquer dúvida que ele tenha, por exemplo seja ela jurídica, ele vai na internet, pesquisa e sabe. Então as coisas foram evoluindo para a melhor nesse sentido.
Pergunta:
O aluno, antigamente, dessa década de 1980 e 1990, não era um aluno mais maduro? Ou é um mito isso? Quer dizer, ele chegava um pouco mais velho, com maior bagagem e hoje você tem mais adolescentes...?
Resposta:
Acho que nesse ponto, é a mesma coisa. Acho que o que mudou mesmo é.. devido a informação, acho que mudou essa evolução, o ser humano, vamos falar aqui no caso do aluno, ele sabe das informações, ele sabe onde ele pode ir e onde não pode ir. A tecnologia, a ferramenta internet ajudou muito nisso. Então a questão de ter mais molecada, mais velho, acho que nesse ponto não se altera não. [45']
Pergunta:
Carlinhos, chegou o momento em que você deixa a casa dos seus pais em Santo André, não é isso?
Resposta:
Até por necessidade, eu fui pai, né?
Pergunta:
Como foi essa nova fase?
Resposta:
Entrei em 1980 e em 1988 nasceu o meu primeiro filho. Então eu estava naquela fase da timidez, ainda estudando e fui pai. E aí começou uma nova fase para mim.
Pergunta:
Fala um pouco desse período.
Resposta:
A fase que eu diria, a fase mais difícil porque eu não tinha uma estrutura profissional, econômica, eu era um office boy, tendo que estudar e já tendo que ser pai. Obviamente, assumi as despesas de casa; isso em 1988. Em 1989, veio o segundo, o segundo filho. Quer dizer, esses anos de 1988 até 1995, 1992-93, foram os mais difíceis porque eu não tinha um bom salário, eu ainda era muito novo com 22-23 anos e tendo que assumir esse papel de pai e chefe de família. Tive que largar os meus estudos, que não dei andamento, que larguei. Foi um período complicado para mim.
Pergunta:
Você estava no Ensino Superior, né?
Resposta:
É.
Pergunta:
Você tinha optado por qual área?
Resposta:
Financeira. Eu sempre gostei da área financeira.
Pergunta:
Você citou isso. Como surgiu esse interesse?
Resposta:
Pois é, eu sempre me interessei pela parte contábil, parte da administração financeira mesmo, seja financeira pessoal doméstico, eu sempre gostei disso. E comecei a ler livros, mercados capitais, eu sempre gostei dessa coisa e achei: 'É essa a área que eu quero ir.' . Lógico que no IMES eu não estava nessa parte de mercado capital, mas a parte contábil eu gosto, a parte de administrar, a parte financeira, administrar a tesouraria. Acho que eu nasci para isso. Só que os meus estudos eu deixei de lado, foi embora. Fui voltar a estudar em 2002-2003, fazer faculdade.
Pergunta:
Então fala novamente dessa outra fase. Como então foi ter passado
_________________________?
Resposta:
Então, eu já estava com 38-39 anos e com necessidade de fazer um curso superior. Pai de dois meninos e falei: 'Eu preciso dar um norte para a minha vida. Preciso fazer alguma coisa.'. E aí eu fui fazer Administração, eu precisava fazer e fui fazer Administração.
Pergunta:
Como é o nome dos seus filhos?
Resposta:
Felipe e Vinícius.
Pergunta:
Só para deixar registrado aqui.
Resposta:
E os dois formados na USCS, hein! [risos]
Pergunta:
Fala um pouquinho dessa sua fase aluno, quer dizer, o outro lado do balcão ali, como estudante. Queria que você falasse um pouquinho sobre as aulas, os professores que te marcaram, conta um pouco sua experiência como aluno da universidade.
Resposta:
Pois é, eu nunca gostei de matérias teóricas, entendeu? Sempre tive muita dificuldade, nunca gostei muito de ler, entendeu? E as matérias de cálculo sempre tive mais facilidade. Então, o professor de administração financeira, o professor (Luiz), o professor de matemática, o professor Miguel, esses caras eu gostava. Estatística, então esses professores assim sempre foi...
Pergunta:
Estatística quem te deu?
Resposta:
O professor de estatística foi o Osíris. Tinha uns professores que eu gostava. O professor de Direito, eu não esqueço porque era a maneira de dar aula, falava muito alto, entendeu? E ela uma professora que focava __________ queria que a gente lesse o código civil. E ela tinha um trauma de ensino fundamental, pegava o quadro e escrevia: ‘lê o artigo 242, fala sobre ele, o que que você entendeu sobre ele'. Ela tinha esse método, pra gente ter que ler em voz alta em sala de aula. Um método que em faculdade não é muito utilizado, né? Normalmente é lousa, o professor. Essa professora, acho que era Rosana, eu não esqueço, mas áreas de cálculo sempre foi o meu xodó. [50']
Pergunta:
Como foi a emoção do dia de pegar o diploma?
Resposta:
Pois é, isso em 2007. Você vê, hein? Não faz muito tempo não. Não faz muito tempo não. Mas eu precisava. Eu tenho, como eu disse, dois filhos, eu precisava dar para eles o primeiro passo, mostrar que o estudo é importante, então isso ficava na minha cabeça, entendeu? Aqui no IMES nunca exigiram que eu fizesse faculdade. Mas eu me sentia em débito comigo mesmo, como que eu vou cobrar do meu filho que faz faculdade, se eu mesmo não fiz. Então eu, depois de estar com trinta você sabe, né? 37, 38 anos já não tem o mesmo pique que uma garota de 18, 19, 20, 21, 22. Mas eu precisava.
Pergunta:
Você sentia isso na sala de aula? Quer dizer__________?
Resposta:
Pois é, eu tinha colegas de 19 anos em sala de aula.
Pergunta:
Qual era a relação com esses alunos?
Resposta:
A relação era boa. É lógico que as panelinhas...eu procurava me envolver, mas o papo já não era mais o mesmo, você entendeu? Eu procurei me envolver com colegas que estivessem um pouquinho, de repente igual a minha, até tinha mais do que a minha. Mas que tivesse uma idade mais próxima da minha, porque 19, 20 anos quer outra história. Está numa fase, a gente estava em outro tipo de fase. Mas a relação era boa, a gente ria bastante, era gostoso.
Pergunta:
E os seus filhos, né? Também formados aqui, fala um pouco sobre_________?
Resposta:
Pois é, eu tenho meu filho Felipe, que é o mais velho, e ele se formou em 2011... em Administração com ênfase em Finanças.
Pergunta:
Quase foi seu bicho!
Resposta:
Pois é! E eu tenho o Vinícius que se formou em 2012 em Sistemas de Informação, tudo na época de quatro anos, hoje é semestral, mas o curso deles era anual. E se formou em Sistemas da Informação. Formados, colação de grau dos dois, inclusive eu participei, né?
Pergunta:
Você que entregou o_____?
Resposta:
Não fui eu que entreguei, mas eu estava lá, os reitores da época vieram me cumprimentar e tal. A satisfação é a melhor possível, né? Você ver seus filhos formados, bem encaminhados profissionalmente é o que todo pai quer.
Pergunta:
O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
Pois é, a USCS representa tudo na minha vida, Luciano, porque tudo que eu conquistei, tudo que eu tenho hoje foi devido a eu ter entrado lá em 1980 através do meu tio Geraldo para ser office boy. De lá, muita coisa mudou. Muitos funcionários saíram, muitos funcionários entraram, eu tive muita paciência porque eu tive uma fase, como eu te disse, muito difícil de aprendizagem, depois uma fase muito difícil dos meus filhos nascerem, então eu tive que engolir muito, viu? Porque você sabe, você tem seus chefes, cada chefia tem seu perfil, então eu tive fases que eu falei: ‘não, eu não aguento mais, vou sair daqui'. Momentos de pressão, momentos muito complicados de ordem de sistemas, de relação com pessoas. Então, não foi fácil não ficar aqui dentro da universidade. A gente teve muita dificuldade, a estrutura também não era boa, fomos evoluindo, mas eu não posso, eu não posso jamais, devido a isso, falar mal da universidade, porque o que eu sou hoje é devido a ela. Minha formação é devido a ela, a formação dos meus filhos é devido a ela, o que eu tenho hoje, né? Na minha casa, uma estrutura, é porque eu estou aqui dentro. Não posso jamais, pode ter dificuldades, posso ter algum problema de relação com alguém, entendeu? A gente pode de repente querer que a estrutura melhore, mas...o que eu tenho aqui dentro, o que eu devo pra universidade é muito grande. [55']
Pergunta:
Carlinhos, a gente falou há pouco... [interrupção do entrevistado]
Resposta:
A satisfação de estar aqui dentro é muito grande, você ver o crescimento da faculdade, o que ela evoluiu de muitos anos pra cá, hoje com vinte e seis, vinte e sete cursos, cursos de medicina, você entendeu? É, a satisfação é muito grande, você ver tudo isso, praticamente eu vi muita coisa aqui dentro. Não tem preço, isso aí é muito bom.
Pergunta:
A gente falou há pouco, né? Quando seu tio te chamou para trabalhar no IMES, você não tinha ideia do que era o IMES.
Resposta:
Não, jamais.
Pergunta:
Hoje, se alguém te perguntasse ‘defina o que é a USCS', como que você definiria?
Resposta:
Pois é, numa única palavra é difícil, né Luciano?...A universidade, ela evoluiu muito...seja estruturalmente. Na questão de a gente ter hoje o mestrado, temos doutorado, essa questão da gente hoje ter curso de medicina. Isso mostra que a faculdade não se preocupou em simplesmente só em receber. Ela se preocupou em dar uma estrutura. Professores, ótimos professores. Então, a grandeza da universidade é muito grande...eu entendo que temos que melhorar, temos problemas? Nós temos, mas se a gente for traçar uma evolução, ela cresceu muito de uns anos pra cá.
Pergunta:
São 35 anos, é isso mesmo?
Resposta:
Na verdade, completados no dia 26 de setembro são trinta e seis anos que sou funcionário aqui dentro. Então eu vi muita coisa, eu vi o crescimento, vi muita dificuldade, mas vi crescimento de cursos, evolução de cursos, evolução de pessoas muito grande aqui dentro.
Pergunta:
Tem alguma história divertida? Uma curiosidade, alguma coisa que vem à sua cabeça. Poxa, olha, são 36 anos como você mesmo falou, diariamente vindo à USCS. O que que você_____?
Resposta:
Eu posso dizer pra você histórias assim, que a gente se emociona, pai com muita dificuldade pro filho cursar, e aí a gente procura dentro das possibilidades, dentro dos parâmetros estabelecidos pela universidade, ajudá-lo numa negociação, e aí você chega no final do ano o pai vem lá, no final do curso: ‘olha, meu filho só se formou porque você ajudou', eu escola [abre aspas com as mãos] que eu represento a escola, ‘você ajudou, num momento difícil, você estava presente, você deu o braço pra ele, você ouviu ele, você ouviu minhas histórias, que eu estava desempregado, que eu não estava conseguindo ajudar meu filho, e você aí negociou'. Sabe, isso, é um prazer, é uma sensação muito boa. A gente tem muita história, Luciano. Tem histórias tristes, entendeu? Que a gente pega pais, que dão o dinheiro todo mês lá pro filho pagar a faculdade, daqui a pouco o filho não consegue mais fazer rematrícula, aí o pai vem perguntar pra você: ‘mas por que que meu filho não pode fazer rematrícula?' aí eu: ‘ah, seu filho está devendo, senhor'. ‘Mas todo mês eu dava o dinheiro pra ele'. ‘Pois é, senhor, ele não pagou. Ou se não o senhor traz os recibos, não tem pagamento'. Depois ele vem lá, primeiro ele vem, você imagina, né? [soco na palma da mão] Ele vem matando [soco na palma da mão] ele vem às vezes com sete pedras em cima de você, mas a maturidade, o tempo que a gente está aqui, a gente já acode isso. E aí você passa pra ele a necessidade de ele apresentar os recibos, jamais dizendo que ele não pagou. E aí depois ele vem falar pra você: ‘poxa, meu filho não pagou a faculdade'...Histórias tipo, é, o filho está estourado em faltas. Está em dia com a faculdade, reprovou, aí você vai ver, não estudou... Relatos de pais, o filho está nas drogas... O filho não veio na faculdade, está nas drogas, internado. Então a gente tem relatos positivos e a gente tem relatos negativos. É muita história, a história mais recente é de um aluno que fez acordo com a gente...obviamente que eu não vou entrar em detalhes, mas os cheques que foram deixados são cheques fraudados. E aí a pessoa vem até a faculdade, dizendo que ele descobriu que os cheques eram da USCS, que estavam nominal à USCS e queria saber quem era que tinha deixado os cheques, aí envolve polícia, entendeu? Tem muitas histórias que você não imagina, que a gente acaba enfrentando e que não vamos divulgar isso para os seus alunos porque não tem nada a ver, né? Mas as sensações positivas é o que deixa a gente muito feliz. Aquele do pai que vem te agradecer, histórias de alunos que vendiam coxinha pra pagar a faculdade. Não pensa que tem um ou dois não, viu? Existe de tudo aí, lanche natural, pra poder complementar, ajudar o pai a pagar a faculdade, que o pai é aposentado. As histórias que... e aí você vê que esses alunos dão valor, né? Passam na faculdade, notas boas, e aquele que o pai paga às vezes não quer nada com nada. Então tem muitas histórias assim Luciano, que a gente acaba ouvindo, que a gente acaba às vezes até presenciando, que a gente acaba ouvindo.[1:00']
Pergunta:
Mas, ouvindo você falar, em sala de aula, a gente, semestre e semestre, mais ou menos aquelas perguntas que sabe que o aluno vai fazer, e seja lá qual for a aula, sempre vai ter algum que vai perguntar isso ou aquilo e tem outras que são mais, digamos assim, não corriqueiras, né? Que você e pensa: ‘nossa!', até se espanta. Às vezes por ser excêntrica, por ser diferente e tal. Em todos esses anos atendendo aos alunos, tem algum desses casos? Quer dizer, aquela dúvida, aquela pergunta que você sabe que sempre aparece lá?
Resposta:
Bom, a pergunta principal é reajuste. Todo ano tem, agora em dezembro vai ter. Autarquia, a faculdade é uma autarquia: ‘bom, mas se ela é pública, por que tem que pagar mensalidade?' [risos] Essa aí é a...
Pergunta:
E como você responde?
Resposta:
Pois é, a gente tem que explicar que é uma autarquia pública, mas ela tem uma sobrevivência única, específica dela, entendeu? A natureza dela, os encargos sociais a gente não é isento, então a gente tem que pagar, tem que recolher, só é o prédio [aspas com as mãos] que é uma autarquia, que é outro tipo de autarquia. Mas às vezes a pessoa não entende, né? Por isso que a gente coloca lá no vestibular que tem custo, mas elas ficam perguntando.
Pergunta:
Tem outras dessa manjadas que você sabe que vai ter que responder daqui a pouco?
Resposta:
Em relação às faltas dos alunos. Eu acho que agora que eu to mais direcionada à parte financeira, mas o atendimento ao aluno também vincula a mim, é a questão de aluno que reprova por falta: ‘olha, reprovei por falta, e agora, o que eu faço pra mim compensar essas faltas?'. E não tem, reprovou, existe um limite, vinte e cinco por centro você pode faltar, os outros setenta e cinco você tem obrigação, tem a obrigatoriedade de cursar, de ter frequência. Então, é uma pergunta também que agora, daqui a pouco, vocês estão perguntando, porque enquanto não estão reprovados, eles vão levando. Aí quando estourar: ‘ah, eu reprovei por uma falta'. Você não reprovou por uma falta, o limite é dez, você está com onze, você reprovou por onze faltas. Então, essas pergunta são bem a base, de final de ano acontece.
Pergunta:
E aquelas que, de repente, você já ouviu ou foi com uma situação que era tão fora da normalidade que, sei lá, que até lá entre os funcionários: ‘poxa, olha o que que vieram me perguntar? Olha a dúvida dessa pessoa'.
Resposta:
Não, tem perguntas relacionadas assim, o curso, ele custa R$ 6 mil, a faculdade, ela parcela em seis vezes. Ela podia exigir que o aluno fizesse o pagamento à vista, mas obviamente que ninguém faz isso, a gente parcela em seis vezes, e às vezes o aluno ele quer cancelar a rematrícula e quer o dinheiro de volta: ‘não, eu estou cancelando minha matrícula e quero meu dinheiro de volta'. A faculdade deu a opção de parcelar em seis vezes. Eles confundem um pouquinho isso aí também.
Pergunta:
Até porque tem que pagar em janeiro e dezembro, né?
Resposta:
É! ‘Por que eu tenho que pagar a matrícula em janeiro que eu não tenho aula? Por que eu tenho que pagar a matrícula em julho que não tem aula?'. Até essa pergunta até dá pra ter um pouco de fundamento: ‘por que eu tenho que pagar em dezembro, se as minhas aulas só começam em fevereiro?' Aí tem que voltar de novo àquela questão que o curso está rateado em seis parcelas, vencimento é agora em dezembro e a próxima só em fevereiro. Aquela questão do desconto: ‘eu quero pagar à vista, eu quero um desconto. Aí tem que explicar que aqui vai naquela questão da autarquia pública, aqui não tem um dono, né Luciano? Aqui tem um cargo de confiança, é um reitor, dinheiro é público [aspas com as mãos] o reitor não pode simplesmente fazer o que ele quer como numa escola particular. Tenho dois irmãos, qualquer escola particular pra dois irmãos ele vai dar vinte, trinta por cento de desconto. Pra ele é bom, porque faz fluxo de caixa, ele recebe à vista, e são dois irmãos eletivos na escola. Aqui não, aqui se não tiver uma lei que determina que tem que dar desconto pra irmãos, não pode ser aplicado. Por que? O reitor não é dono da sua receita, ele é o executivo, ele é o controlador, você entendeu? Mas ele não pode fazer o que ele quer se fosse uma escola particular. Essas coisas a gente tem que todo semestre, que provavelmente vai ter casos, que quer pagar à vista, ou porque tem irmãos, que querem um desconto maior, que seja de cinco por cento...Então com certeza esse semestre a gente vai ter que expor isso pro aluno. Comum. [1:05']
Pergunta:
Você citou agora de novo essa evolução desse departamento, o setor de atendimento ao aluno, né? Então quando ela foi criada, passou ainda ali no prédio B, a ter uma área separada para o atendimento ao aluno e mais recentemente teve essa criação de uma área específica para o financeiro.
Resposta:
Hoje onde está o atendimento ao aluno, antes era o financeiro e o atendimento ao aluno ali. Era uma coisa só. Nós criamos ali, melhoramos aquela questão estrutural, a questão também de sistema, que foi evoluindo, apesar que sistema estamos há dois anos que teve uma evolução muito boa. Antes, o aluno tinha que ir lá duas ou três vezes, agora na maioria dos casos é uma vez só. Mas a gente só tinha o setor de atendimento que fazia as duas coisas. A gente entendia que tem picos, tem picos de janeiro que são acordos, e o cara tinha que pegar filas, e o aluno que era de ordem acadêmica tinha que pegar a mesma senha pra um cara que é financeiro. Então a gente começou a imaginar: ‘poxa, por que que um cara vai ficar duas horas pra resolver um problema acadêmico, sendo que grande parte dos alunos é parte financeira?' a gente entendeu que a gente teria que separar os ambientes, porque aí a gente tem uma triagem de acordo com cada aluno, na seção de aluno, em picos diferentes, tem picos que gera atendimento ao aluno é apertado e o financeiro não. Tem época que o financeiro é apertado e o atendimento ao aluno não. Então a gente precisava separar esses ambientes pra justamente fazer essa triagem e não ter tanta fila, ou de repente tem aquele que é acadêmico, fica tanto tempo esperando algo, que a grande maioria é financeiro, e vice-versa. Então, o nosso objetivo foi esse, procurar um espaço físico pra isso, e aí foi uma dificuldade de ter o espaço físico. A gente não tinha espaço mais, e também não queria colocar mais salinhas como está o atendimento lá, o DCE, onde está o AACC. A gente queria uma salinha fixa, entendeu? E ponto. E foi aí onde a gente criou aquela sala entre o B e o A ali, né? Aí evoluiu bastante, porque agora tem pessoas que respondem só por parte acadêmica. Isso não está no campus Centro ainda, mas no campus Barcelona está, e pessoas que só respondem pela parte financeira. Essa triagem é boa, porque a gente começa a dar um tratamento melhor para o aluno.
Pergunta:
Como é a sua rotina hoje, Carlinhos?
Resposta:
Minha rotina?
Pergunta:
É, se é que existe uma rotina, né? Como é que é seu dia a dia?
Resposta:
Fora o meu pilates por causa da minha coluna de manhã, a tarde eu estou na faculdade, eu chego aqui meio dia e meia e fico até às vinte e duas.
Pergunta:
E como que é o seu cotidiano ali da sua área?
Resposta:
Pois é, obviamente, a primeira coisa que eu venho a fazer é agenda e emails. Porque os alunos mandam emails, questionam, dúvidas, então a primeira coisa minha é essa, vou vendo minha agenda, o que eu tenho lá pra fazer, relatórios pra emitir, e vou pra questão dos emails, que às vezes tem bastante emails. Hoje, nem tanto, mas daqui a pouco na época de dezembro começa a apertar, vir acordos, depois são os tramites mais do trabalho. É lógico que da minha parte é mais gestor, o pessoal tem seus trabalhos específicos, seja o atendimento do campus Centro, seja o atendimento do campus Barcelona, seja do financeiro e seja o FIES, que todos se reportam a mim...Então eu fico assim :'atendimento, está tudo bem Andrea? Alguma novidade, alguma coisa pra fazer, algum questionamento?'. Faço a mesma coisa com o atendimento do campus Centro, e a mesma coisa com o FIES, que agora é a tônica, agora que o governo liberou para usar ditamentos, então agora que a gente está carregado de trabalho, então eu fico acompanhando como está a evolução, né?
Pergunta:
A gente vê um paralelo aí né, Carlinhos? Quando você chegou na USCS, ainda muito jovem, você falou de tentar aprender com as pessoas, até citou em determinado momento o Nelson na sua chefia, em determinado momento o professor Botelho, a professora Lúcia, né? Hoje é o inverso. Você já é a pessoa experiente da universidade, já está aqui há muito tempo e numa função de gestão. Com que você, o que você pode falar disso, quer dizer, tanto na forma como as pessoas te ajudaram ali naquele momento, como hoje você procura passar também toda essa sua experiência para a sua equipe? [1:10']
Resposta:
Eu acho que a primeira coisa, Luciano, é ouvir. É uma coisa que eu aprendi, seja qualquer funcionário, é ouvir. Às vezes ele quer questionar alguma coisa, ou ele quer apresentar alguma alternativa para determinado serviço, que você tem sua visão, certo? E você às vezes acha que sua visão que é a melhor a ser tratada. Às vezes, não é. Então eu aprendi o seguinte, ouvidos com os funcionários. Às vezes a gente tem uma rotina de grupos, de conversar, mas independente disso, dou livre acesso, dou a maior abertura para que todos falem o que possa ser melhorado, ouvir. Eu não sou o dono da razão. Então eu ouço eles, às vezes não acho uma boa alternativa, e às vezes, como já aconteceu, é uma solução ótima. É uma alternativa ótima, é uma evolução no setor no trabalho, então eu tenho esse costume de procurar ouvir a todos... Acho que é a minha estratégia é justamente essa, a gente junto, conversar, ouvir os funcionários, dar abertura para que todos falem, para que todos se expressem, entendeu? E para que a gente possa trabalhar bem, e segundo, trabalhar em grupo, ninguém é melhor do que ninguém. Então lá atrás eu vi que tinham esses problemas, eu passei por isso, eu não podia falar nada, eu já tinha dificuldade para me expressar. Eu não tinha abertura para me expressar, para falar, e com a nossa experiência, com os nossos erros, eu fui observando isso e fui, na vida profissional, fui praticando isso. Então, eu procuro dar abertura para todos, é o espírito do grupo, é primordial. E o terceiro, que é o beabá de qualquer administração, é ter um bom planejamento e respeitar as pessoas. Até na hora da bronca, fui aprendendo também, errei. Até no momento que você quer dar algum tipo de questionamento, algum tipo de bronca, você falar de forma tranquila. Não vai na porrada que você perde seu funcionário, e esse funcionário vai te irradiar para os outros funcionários, você é o ruim, você compromete todo o grupo. Uma coisa puxa a outra. Se você não tiver o respeito dos seus funcionários, que é o que carrega o piano, acabou. Você é queimado. Alguém nesse grupo não fará a coisa bem feita, vai comprometer todo o setor. Então, nosso dia a dia é esse, procuro na medida do possível tratar essas três linhas aí, esses três pontos.
Pergunta:
Tudo o que a gente conversou até agora foi uma história de evolução, né? Evolução pessoa, evolução_________?
Resposta:
É, como eu te disse, eu tive bastante problemas, eu te falei que eu já cheguei a ponto de, por necessidade eu não pude abrir mão de sair daqui, mas eu tinha pela minha chefia, a maneira como ele me tratava, pela rigidez, pela estrutura, eu pensei algumas vezes em largar o barco.
Pergunta:
E o que pesou pra você?
Resposta:
Às vezes a necessidade, Luciano... que eu precisava trabalhar. A questão dos meus filhos me amadureceu muito. Se de repente eu não tivesse tido meus filhos, eu tinha largado o barco, estaria em outra empresa. Se eu estaria bem ou não, se estaria migrando para várias empresas, eu não sei, mas de repente eu não estaria aqui. Mas, pela necessidade de ter que ter renda, eu fui ficando.
Pergunta:
No começo da nossa conversa, você falou do futebol. Aprendeu a jogar?
Resposta:
Pois é, eu nunca fui um bom jogadorr de futebol, Luciano. [risos] Eu sempre fui aquele jogador regular, sempre gostei de jogar futebol, hoje obviamente não posso por causa da coluna.
Pergunta:
O que aconteceu com a coluna?
Resposta:
É, eu estou com uma hérnia de disco. Pilates, hoje mesmo foi o dia. Pilates, praticamente três vezes por semana, para poder reforçar o músculo para poder aliviar minha dores para não ter que entrar em cirurgia.
Pergunta:
Fisioterapia você faz aqui também?
Resposta:
Não, pilates estou fazendo perto da minha casa. Porque se não ia ficar muito puxado para mim, vim para cá, voltar para lá. Se eu morasse eu São Caetano, eu acho que faria aqui.
Pergunta:
Você mora onde?
Resposta:
Eu moro em Santo André, mas não no mesmo bairro dos meus pais. Uns dois quilômetros, não é tão perto, é perto. É um outro bairro, mas eu moro em Santo André, nossa, eu sempre vivi em Santo André. [1:15']
Pergunta:
Carlinhos, já partindo aqui para encerrar o nosso papo, queria ver se tem algo mais que você gostaria de destacar, que você gostaria de deixar para esse projeto de memória, que você acha que é importante registrar sobre, tanto a trajetória da própria universidade quanto da sua.
Resposta:
Bom... o que que eu posso dizer. Fiz bons amigos aqui dentro. Eu acho que essa relação tem que prevalecer. Pena que, é uma coisa que eu condeno, de não ter uma relação fora daqui, a gente fica muito centralizado aqui, entendeu? Essa integração, eu acho que teria que, essa parte que eu entendo que é um pouco negativa, que os funcionários deveriam se integrar mais, para a gente ter uma relação mais efetiva de repente fora, tipo uma ou duas pessoas só. Acho que essa relação poderia ser melhorada se tivesse mais atividades internas dentro da universidade. Cursos, palestras, qualquer coisa que pudesse integrar o funcionário. Acho que isso que, de repente, poderíamos ter aqui dentro para melhorar de repente essa relação e ter uma harmonia melhor aqui dentro. Acho que é uma coisa que não depende exclusivamente de mim, né? Eu sinto falta disso.
Pergunta:
Ok, fica registrado. Bom, é isso. Só tenho a te agradecer então.
Resposta:
Eu que agradeço. Obrigado Luciano.
Pergunta:
Pela atenção, pela pronta [aperto de mãos entre entrevistado e entrevistador] contribuição.